Selic atinge 14,75% ao ano: maior patamar desde 2006 é resposta à pressão inflacionária

Copom eleva taxa de juros em meio a incertezas fiscais e turbulências no cenário internacional; impacto afeta consumo, crédito e contas públicas

Reunião do Copom de janeiro de 2025 — Foto: Flickr do BCB

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (7) aumentar a taxa básica de juros da economia de 14,25% para 14,75% ao ano. O aumento de 0,5 ponto percentual levou a Selic ao maior nível desde julho de 2006, quando estava em 15,25%.

A decisão foi unânime entre os nove membros do comitê, incluindo o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. O Copom justificou a medida com base em fatores como o ambiente externo adverso, a política fiscal expansionista no Brasil e a instabilidade econômica dos Estados Unidos, agravada por tensões comerciais iniciadas durante o governo de Donald Trump.

"O ambiente externo mostra-se adverso e particularmente incerto (...), com repercussões relevantes sobre a condução da política monetária", destacou o comunicado do comitê.

Perspectiva para os próximos meses

O Copom indicou que a avaliação sobre os efeitos da política monetária precisará de "cautela adicional" nas próximas reuniões, dado o estágio avançado do ciclo de ajuste.

A expectativa do mercado já antecipava novo aperto na taxa, considerando os últimos pronunciamentos da autoridade monetária. Desde o início de 2025, o país opera com sistema de metas de inflação contínuas, cujo centro é 3%, com intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%.

A meta pode ser descumprida novamente em junho, quando a inflação completará seis meses acima do teto.

Riscos e razões da inflação

Segundo o BC, os principais fatores que mantêm a inflação em níveis elevados são:

  • Aquecimento do mercado de trabalho;

  • Atividade econômica acima do potencial;

  • Crescimento dos gastos públicos;

  • Contexto internacional restritivo, marcado por tarifas comerciais e desaceleração global.

Como a Selic impacta a economia

O aumento da taxa de juros tende a provocar efeitos em diversos setores:

1. Crédito mais caro
A alta da Selic pressiona os juros bancários. Em março, a taxa média cobrada em créditos foi de 44%, o maior patamar em quase dois anos.

2. Consumo e investimentos
Com o crédito mais caro e o custo do capital elevado, a população tende a consumir menos, enquanto as empresas reduzem investimentos. Isso afeta o crescimento do PIB, o mercado de trabalho e a renda.

3. Contas públicas
A alta dos juros também encarece o serviço da dívida pública. Em 12 meses até março, os gastos com juros somaram R$ 948 bilhões (7,9% do PIB), pressionando o endividamento.

4. Investimentos financeiros
Títulos de renda fixa, como Tesouro Direto e debêntures, tornam-se mais atrativos. Em contrapartida, o mercado de ações tende a perder competitividade.

Projeções do mercado

As estimativas para a inflação permanecem acima do centro da meta:

  • 2025: 5,53%

  • 2026: 4,51%

  • 2027: 4%

  • 2028: 3,80%

A atuação do Banco Central mira projeções futuras e não os índices recentes. Como a política monetária leva entre seis e 18 meses para afetar a economia, a Selic atual busca influenciar a inflação do segundo semestre de 2026 e início de 2027.

O que vem a seguir

Na próxima reunião, o Copom sinaliza que manterá postura cautelosa e flexível, acompanhando novos dados econômicos. Especialistas preveem manutenção ou novos aumentos graduais da Selic, caso as pressões inflacionárias persistam.

Fonte: G1

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