Chuvas contaminadas: estudo da Unicamp detecta agrotóxicos em regiões paulistas

Pelo menos 14 pesticidas, incluindo substâncias proibidas no Brasil, foram encontrados em amostras coletadas entre 2019 e 2021 em Campinas, Brotas e na capital; especialistas alertam para riscos à saúde pública

Foto: Freepik

Um estudo inédito conduzido pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revelou a presença de agrotóxicos na água da chuva em três importantes regiões do estado de São Paulo: Campinas, Brotas e a capital. A pesquisa identificou 14 pesticidas e cinco compostos derivados nas amostras coletadas entre os anos de 2019 e 2021, incluindo duas substâncias com uso proibido no Brasil, o fungicida carbendazim e o inseticida carbofurano.

Segundo os pesquisadores, os agrotóxicos aplicados nas lavouras não permanecem apenas no solo ou nas plantas. Eles se dispersam no ar, sendo transportados por vento, temperatura e umidade, até se condensarem e retornarem ao solo por meio das chuvas. Essa dinâmica preocupa especialistas da área ambiental e da saúde pública.

Agricultura e concentração de tóxicos caminham juntas

Os dados apontam uma correlação direta entre a intensidade da atividade agrícola e a concentração de pesticidas nas chuvas. Campinas, com quase metade de seu território voltado à agricultura, apresentou os índices mais altos, registrando 701 microgramas por metro quadrado. Brotas, com 30% de área agrícola, teve média de 680 microgramas/m². Já na cidade de São Paulo, onde apenas 7% do território é dedicado à agricultura, o índice foi de 223 microgramas/m².

A substância mais comum foi a atrazina, um herbicida proibido em diversos países, mas que apareceu em 100% das amostras coletadas. O fungicida carbendazim, banido no Brasil em 2022, foi detectado em 88% das coletas. Outra substância relevante foi o tebuthiuron, herbicida encontrado pela primeira vez em águas de chuva, presente em 75% das amostras.

Riscos invisíveis e persistentes

O estudo, publicado na revista científica Chemosphere em março de 2025, ainda chama a atenção para compostos de alta toxicidade, como o 2,4-D, ligado a casos de infertilidade e proibido no Brasil desde 2023, detectado em grande quantidade em Brotas. Outro destaque foi o fipronil, conhecido por ser altamente tóxico para abelhas e proibido em países como Estados Unidos e membros da União Europeia, mas ainda amplamente presente nas chuvas paulistas.

Com a intensificação da crise hídrica em várias regiões do país, o uso da água da chuva para fins domésticos se tornou uma alternativa comum. No entanto, os pesquisadores alertam que essa prática pode representar um risco silencioso à saúde, uma vez que muitos dos compostos encontrados sequer têm limites regulatórios estabelecidos para água potável.

“A ideia de que a água da chuva é limpa não corresponde totalmente à realidade. O estudo levanta um alerta importante sobre a segurança no uso dessa água”, explicou a coordenadora da pesquisa, Cassiana Montagner, em entrevista à Revista FAPESP.

A descoberta reforça a urgência de políticas públicas mais rigorosas sobre o uso de pesticidas, bem como da implementação de mecanismos de monitoramento da qualidade da água da chuva, especialmente em regiões agrícolas.

Fonte: IG

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