Brasil sai do mapa da fome após quatro anos, mas 35 milhões ainda vivem insegurança alimentar

FAO aponta avanços do país no combate à desnutrição, mas alerta para persistência da fome e crescimento da obesidade ligada à má alimentação 

Relatório da ONU diz que Brasil saiu do Mapa da Fome- FOTO : Arquivo/Agência Brasília

O Brasil deixou novamente o mapa da fome da FAO — a agência das Nações Unidas para alimentação e agricultura. Segundo relatório divulgado nesta quinta-feira (25), a taxa de desnutrição no país caiu para menos de 2,5% da população, patamar considerado baixo pelo organismo internacional. A conquista vem quatro anos após o Brasil ter voltado à lista em 2021, em meio à pandemia de covid-19 e à descontinuidade de políticas sociais.

Apesar do avanço, a insegurança alimentar ainda afeta milhões. Segundo dados mais recentes, 3,4% da população — cerca de 7 milhões de brasileiros — vivem em situação de insegurança alimentar severa. Outros 13,5% (28,5 milhões) enfrentam insegurança alimentar moderada, totalizando mais de 35 milhões de pessoas com dificuldade de acesso a uma alimentação regular e de qualidade.

Em Roma, o economista-chefe da FAO, Máximo Torrero, destacou o Brasil como exemplo global. Segundo ele, programas como o Fome Zero, as transferências condicionais de renda e políticas de alimentação escolar foram decisivos para evitar a ampliação da pobreza extrema. Além disso, o país também se consolidou como um dos maiores exportadores de cereais do mundo, elevando sua produção e a oferta interna de alimentos.

“O Brasil demonstrou que é possível combinar crescimento econômico com políticas de proteção social eficazes”, afirmou Torrero.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou o feito. “Uma conquista histórica que mostra que, com políticas públicas sérias e compromisso com o povo, é possível combater a fome e construir um país mais justo e solidário”, declarou em suas redes sociais.

Alimentação saudável ainda fora do alcance de milhões

Mesmo com a melhora nos indicadores de desnutrição, o relatório da FAO alerta para um dado preocupante: 50,2 milhões de brasileiros não têm renda suficiente para manter uma alimentação saudável. Embora o número tenha caído em relação a 2021, quando 62 milhões viviam essa realidade, o patamar atual ainda representa 23,7% da população.

A alta no preço dos alimentos saudáveis é um dos fatores. Desde 2019, o custo de uma refeição equilibrada vem subindo de forma constante, dificultando o acesso de famílias de baixa renda a frutas, verduras, carnes e alimentos frescos.

O estudo também mostra que os alimentos ultraprocessados, geralmente pobres em nutrientes, são até 50% mais baratos que os alimentos saudáveis. Isso tem impulsionado uma epidemia silenciosa: a obesidade.

Obesidade em alta: um novo desafio

A taxa de obesidade no Brasil saltou de 19,1% em 2012 para 28,1% em 2022, atingindo 45,7 milhões de brasileiros. A FAO associa o crescimento à dificuldade de acesso a alimentos saudáveis, ao sedentarismo e a padrões de vida desregulados. A organização também aponta os produtos ultraprocessados como grandes responsáveis pela deterioração da qualidade alimentar.

“Apesar das evidências crescentes de seus impactos negativos, esses produtos são mais baratos e amplamente disponíveis”, diz o relatório.

Mundo caminha, mas meta de erradicação da fome em 2030 está distante

O relatório da FAO também mostra que, embora a fome tenha diminuído globalmente após o pico da pandemia, a meta de erradicá-la até 2030 está fora do alcance. Atualmente, entre 638 milhões e 720 milhões de pessoas enfrentam fome no mundo. O número médio — 673 milhões — ainda está muito acima dos 584 milhões registrados em 2019, antes da covid-19.

Os maiores contingentes estão na Ásia (323 milhões) e na África (307 milhões). A América Latina soma 34 milhões de pessoas em situação de fome.

Além da insegurança alimentar severa, mais de 2,3 bilhões de pessoas — 28% da população mundial — vivem em insegurança alimentar moderada, com acesso irregular ou inadequado à comida. Na África, esse número já ultrapassa 1 bilhão.

A FAO aponta que a pandemia, a guerra na Ucrânia, a inflação global e os efeitos climáticos extremos afetaram profundamente o sistema alimentar global e comprometeram os avanços das últimas décadas.

Ainda assim, o Brasil aparece como exemplo de resiliência e recuperação. Mas, como alertam os dados, sair do mapa da fome não é o mesmo que garantir alimentação digna a todos. O desafio continua.

Fonte: UOL

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem