Relatório do Coaf liga empresário do “Jogo do Tigrinho” à empresa da família de Ciro Nogueira

Senador afirma desconhecer negociação e diz que empresa é gerida por irmão; transações milionárias envolvem ex-assessor e viagens de luxo

Senador Ciro Nogueira (PP-PI) - Imagem reprodução

Um relatório sigiloso do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) enviado à CPI das Apostas Esportivas (CPI das Bets) revelou novas ligações entre o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o empresário Fernando Oliveira Lima, conhecido como Fernandin OIG, apontado como um dos donos de plataformas de apostas online associadas ao popular “Jogo do Tigrinho”.

A investigação jornalística, divulgada pela revista piauí, mostra que Fernandin adquiriu três apartamentos em Teresina em um edifício construído pela empresa Ciro Nogueira Agropecuária e Imóveis, da qual o senador é sócio. A empresa tem entre seus administradores os irmãos do senador, Gustavo e Silva Nogueira Lima e Raimundo Neto e Silva Nogueira Lima, que já atuaram como seus assessores parlamentares.

Ciro Nogueira disse à revista que não tinha conhecimento da venda dos imóveis e justificou: “Nunca ouvi falar dessa compra”. Segundo o senador, quem administra a empresa é seu irmão.

Repasse milionário e ex-assessor envolvido

Ainda conforme o relatório do Coaf, entre dezembro de 2023 e setembro de 2024, Fernandin repassou R$ 625 mil a Victor Linhares de Paiva, ex-assessor direto de Ciro Nogueira e atualmente secretário municipal em Teresina. Questionado sobre a transação, o senador disse que a quantia se referia à venda de um relógio de luxo da marca Richard Mille. Segundo ele, tudo estaria declarado no Imposto de Renda.

O ex-assessor também repassou mais de R$ 30 mil diretamente ao senador. Sobre esse valor, Ciro alegou que foi um reembolso referente a uma viagem à Ilha de Capri, na Itália, que teria sido cancelada por ele e transferida a Victor. “Eu desisti da viagem e transferi para Victor a reserva que já estava paga, e ele me ressarciu”, disse o senador à reportagem.

Empresário poupado no relatório final da CPI das Bets

Apesar das evidências apresentadas pelo Coaf, o relatório final da CPI das Apostas Esportivas não incluiu as informações sobre Fernandin OIG. A relatora, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), justificou a omissão alegando que vinha sendo ameaçada e temia represálias.

Fernandin OIG - Foto Reprodução redes socias

Soraya também chegou a afastar Ciro Nogueira da CPI após vir à tona a informação de que o senador viajou à França para acompanhar o Grande Prêmio de Mônaco a bordo de uma aeronave pertencente a Fernandin.

O relatório financeiro do Coaf aponta ainda um crescimento exponencial no patrimônio do empresário: de R$ 36 milhões em 2022 para R$ 143 milhões em 2023 — um salto de quase 300% em um único ano.

O relatório final da CPI foi rejeitado por 4 votos a 3, o que frustrou as expectativas de responsabilização dos envolvidos. A derrota marcou a primeira vez em mais de uma década que um relatório de CPI foi derrubado no Senado. Votaram contra os senadores Angelo Coronel (PSD-BA), Efraim Filho (União-PB), Professora Dorinha Seabra (União-TO) e Eduardo Gomes (PL-TO), este último ex-líder do governo Bolsonaro.

Votaram a favor os senadores Eduardo Girão (Novo-CE), Alessandro Vieira (MDB-SE) e Soraya Thronicke, a relatora da comissão.

“Jogo do Tigrinho” no centro da polêmica

O “Jogo do Tigrinho” — nome popular do jogo Fortune Tiger — é um caça-níquel digital que tem sido fortemente criticado por especialistas e parlamentares por induzir perdas financeiras, especialmente entre os mais jovens. A CPI propunha, entre outras medidas, a proibição desse tipo de jogo no Brasil.

O relatório final também pedia o indiciamento de Fernandin OIG por suspeitas de lavagem de dinheiro e associação criminosa. Com a rejeição, esses encaminhamentos perderam força, ainda que as investigações possam seguir em outras esferas.

A reportagem da piauí destaca que, mesmo com o fim da CPI, as ligações entre o universo das apostas digitais e políticos influentes seguem sendo tema de atenção pública e jurídica. Até o momento, Ciro Nogueira não é formalmente investigado, mas os novos dados acendem alertas sobre possíveis conflitos de interesse e favorecimentos.

Com informações da Revista Piauí

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