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Usina para fabricação de etanol de milho da Inpasa, próxima a Nova Mutum (MT) - Fernando Canzian/Folhapress - 13.jul.23 |
Apesar da redução significativa da participação da indústria de transformação na economia brasileira nos últimos anos, há segmentos que estão registrando recordes de produção, exportação e investimentos, especialmente ligados às principais commodities exportadas pelo país. Com uma crescente verticalização produtiva, valor agregado e volume, o Brasil, impulsionado pelo boom do agronegócio, consolidou-se como o maior exportador mundial de alimentos industrializados em volume, superando os Estados Unidos e atingindo a marca de 64,7 milhões de toneladas em 2022.
Nos setores de petróleo e mineração, também se observa um aumento significativo do beneficiamento de produtos brutos, impulsionando cadeias industriais. Contudo, é na área de alimentos que o Brasil se destaca, tornando-se o maior setor da indústria de transformação, com 24,3% de participação no total de vagas, envolvendo 38 mil empresas e gerando 2 milhões de empregos diretos.
O setor alimentício, que processa 58% do valor da produção de alimentos do campo, experimentou um crescimento notável nas exportações de alimentos industrializados nos últimos sete anos, saltando de US$ 35,2 bilhões para quase US$ 60 bilhões (+72%). Enquanto a indústria de transformação em geral encolheu 1,2% de janeiro a setembro do ano corrente, a indústria de alimentos cresceu 3,9%, superando até mesmo o setor relacionado ao petróleo, que teve um aumento de 4,8%.
Mesmo sem intervenção estatal direta, a indústria alimentícia investe anualmente cerca de R$ 30 bilhões, contribuindo para mudar a imagem do Brasil de "celeiro do mundo" para "supermercado do mundo". Contudo, especialistas alertam para os riscos associados à dependência excessiva de commodities, que podem tornar o país vulnerável a flutuações acentuadas nos mercados globais.
Enquanto setores como o de alimentos continuam a crescer e a gerar empregos, há desafios significativos na busca por formas de reindustrialização, especialmente diante da queda da participação da indústria no PIB, que despencou de 36% para cerca de 11% nos últimos 40 anos. A busca por uma transformação sustentável da riqueza natural temporária em valor agregado e conhecimento é um desafio complexo, mas necessário para garantir um crescimento de longo prazo.
No setor de petróleo, gás natural e minério de ferro, a receita adicional acumulada pela União deve chegar a R$ 1 trilhão entre 2022 e 2030, contribuindo para o equilíbrio das contas públicas. No entanto, a transformação desses recursos em valor agregado e inovação permanece como um desafio para o médio prazo.
O Brasil enfrenta um dilema entre a dependência das commodities, que impulsionam saldos comerciais robustos, e a necessidade de diversificação e reindustrialização para garantir um crescimento sustentável. Apesar dos riscos associados, o país está bem posicionado no atual cenário de crescimento das commodities, contribuindo para o aumento da poupança doméstica e oferecendo oportunidades para financiar investimentos e a dívida pública.
Em meio aos avanços em setores como alimentos, siderurgia e petróleo, o desafio persiste na reindustrialização e na criação de empregos mais qualificados e produtivos. O Brasil continua a buscar um caminho que equilibre a dependência das commodities com a necessidade de uma transformação estrutural mais ampla em sua economia.
Fonte: Folha de São Paulo