Hipocrisia: Congresso explode gastos, mas exige cortes ao governo

Hugo Motta ataca aumento do IOF e cobra responsabilidade fiscal do governo, mas articula bilhões em emendas e aumento no número de deputados sem demonstrar a mesma preocupação com os próprios excessos

Presidente da Câmara Federal, Hugo Motta - Reprodução Câmara Federal

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), marcou para esta terça-feira (25) a votação do projeto que pretende derrubar o decreto do governo que aumentou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

Em discurso público, Motta exigiu que o Executivo “faça o mínimo do dever de casa do ponto de vista do corte de gastos”, e criticou as medidas econômicas estudadas pelo governo, alegando que foram “extremamente mal recebidas pelo Congresso e pelo setor produtivo”. O deputado defendeu uma agenda “alinhada” e que “seja boa para o país”.

Até aí, nada fora do comum. O problema começa quando se observa que o mesmo parlamentar que cobra responsabilidade fiscal é protagonista de articulações que pressionam os cofres públicos com emendas bilionárias e projetos que ampliam o número de mandatos parlamentares — o que gera despesas ainda maiores.

Nesta sexta-feira (27), Motta terá um encontro com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, relator de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade que investiga a falta de transparência e rastreabilidade nas emendas parlamentares. Desde sua nomeação ao STF, Dino tem sido visto como um entrave para o chamado Centrão, e sua atuação já provocou atritos entre o Judiciário e o Congresso.

O presidente da Câmara estará acompanhado do senador Davi Alcolumbre (União-AP), que também irá à sede do Supremo apresentar justificativas sobre o uso dos recursos. A visita ao STF tenta conter o avanço da ação que questiona o “liberou-geral” das emendas.

Segundo levantamento da Folha de S.Paulo, o Orçamento de 2024 destina R$ 59 bilhões em emendas parlamentares, sendo R$ 25 bilhões em emendas individuais. Cada deputado tem direito a cerca de R$ 37 milhões, e cada senador, R$ 68 milhões.

Além disso, o Senado deve votar ainda nesta semana a ampliação do número de cadeiras da Câmara dos Deputados, o que adicionaria 18 novos parlamentares ao Legislativo. O impacto estimado da proposta é de R$ 64 milhões por ano, sem contar o aumento proporcional das emendas individuais para os futuros deputados.

Apesar da escalada de gastos patrocinada pelo próprio Congresso, não se vê nas redes sociais de Hugo Motta — nem em seus discursos públicos — qualquer menção crítica à farra orçamentária interna.

Enquanto isso, o discurso de contenção de despesas segue sendo direcionado exclusivamente ao Executivo, evidenciando a hipocrisia institucional em torno da chamada responsabilidade fiscal.

Cortes para os outros poderes.

Aumento para os amigos da própria festa.

Fonte: IG

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