Senador reconhece "injustiça" contra o ex-presidente, mas reprova declarações de Trump sobre investigação brasileira
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Mourão diz que Bolsonaro é ‘caso interno’ e não aceita que ‘Trump venha meter o bedelho’ no Brasil |
O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice-presidente da República, afirmou nesta terça-feira (15) que considera injusta a forma como o ex-presidente Jair Bolsonaro está sendo tratado nas investigações da trama golpista, mas rejeitou a interferência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no caso. A declaração foi dada durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, que discutiu as estratégias do Brasil para lidar com a nova tarifa de 50% imposta pelos EUA a produtos brasileiros.
"Assim como não aceito que Macron, Greta Thunberg ou Leonardo DiCaprio venham meter a mão nas questões do Brasil, também não aceito que Trump venha meter o bedelho em um caso que é interno nosso", disse Mourão. E completou: “Há uma injustiça sendo praticada contra o presidente Bolsonaro? Há uma injustiça sendo praticada. Mas compete a nós, brasileiros, resolvermos isso.”
Tarifa de Trump e apoio a Bolsonaro
A crítica de Mourão foi motivada por declarações recentes de Donald Trump, que justificou o aumento da tarifa sobre produtos brasileiros como forma de protesto contra o tratamento dado a Bolsonaro, réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta participação em uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
“O tratamento dado ao ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado durante seu mandato, é uma vergonha internacional. É uma caça às bruxas que deve acabar imediatamente”, afirmou Trump em uma carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na semana passada.
O aumento tarifário foi anunciado no dia 9 de julho e colocou o Brasil entre os países mais afetados pelas sanções comerciais dos Estados Unidos, com impacto direto sobre as exportações, especialmente nos setores do agronegócio e da indústria de base.
Confira o Discurso de Mourão no Senado:
Bolsonaro e o "núcleo crucial" da trama golpista
Na segunda-feira (14), a Procuradoria-Geral da República (PGR) encaminhou ao STF as alegações finais no processo que investiga a tentativa de golpe de Estado. No documento de 517 páginas, o procurador-geral Paulo Gonet afirma que Jair Bolsonaro foi o “principal articulador e maior beneficiário” da organização criminosa que atuou para tentar subverter o Estado Democrático de Direito.
Além de Bolsonaro, fazem parte do núcleo considerado “crucial” pela PGR:
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Walter Braga Netto (ex-ministro e vice na chapa de Bolsonaro);
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General Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional);
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Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin);
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Anderson Torres (ex-ministro da Justiça);
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Almir Garnier (ex-comandante da Marinha);
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General Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa);
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Mauro Cid (ex-ajudante de ordens da Presidência).
A PGR acusa o grupo pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. As penas somadas podem ultrapassar os 30 anos de prisão.
Próximos passos
Com a entrega das alegações finais, a Primeira Turma do STF aguarda agora a manifestação das defesas dos réus, que terão 15 dias para apresentar suas alegações. O julgamento está previsto para ocorrer em setembro.
Enquanto isso, no campo político e diplomático, o governo Lula tenta articular estratégias para reverter as sanções econômicas impostas por Trump. O Itamaraty já iniciou conversas com representantes norte-americanos, buscando minimizar os impactos da medida sobre a economia brasileira.
Fonte: Agência Senado