Setor produtivo se afasta do ex-presidente e cobra responsabilidade política após impacto de tarifaço de Trump; empresários elogiam postura mais moderada de Tarcísio
![]() |
Eduardo e Jair Bolsonaro em cerimônia de aniversário da Rota, em SP — Foto: TOMZÉ FONSECA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO |
O clima de rompimento entre o empresariado nacional e o ex-presidente Jair Bolsonaro chegou a um novo patamar. Líderes do setor produtivo, que antes formavam uma base de apoio relevante para o ex-presidente, passaram a criticar abertamente a atuação dele e de seu filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por conta do agravamento da crise comercial com os Estados Unidos.
A gota d’água foi o envolvimento direto da família Bolsonaro na articulação política para pressionar o Congresso a aprovar uma anistia ampla a envolvidos no 8 de Janeiro, em troca de uma possível reversão do tarifaço de 50% imposto por Donald Trump sobre produtos brasileiros. Para empresários, a movimentação representa um risco direto ao mercado e evidencia o uso da política externa em benefício próprio.
“Estão rifando o Brasil. Um ex-presidente da República jamais deveria agir assim. É lamentável ver o pai endossando as atitudes do filho em detrimento dos interesses do país”, afirmou um importante empresário paulista, que já foi aliado de Bolsonaro.
Segundo relatos, o setor privado fez chegar ao Centrão — grupo que atualmente domina a articulação no Congresso — o recado de que não aceitará aventuras golpistas ou manobras que desestabilizem o comércio exterior, especialmente em ano pré-eleitoral.
O empresariado também passou a elogiar a mudança de postura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que demonstrou preocupação pública com o impacto do tarifaço de Trump sobre produtos brasileiros. “Antes, ele errou feio. Agora parece entender o tamanho da responsabilidade de governar”, disse outro empresário.
A avaliação entre os líderes empresariais é de que Tarcísio precisa, cada vez mais, se distanciar da ala radical do bolsonarismo, especialmente se quiser continuar sendo visto como nome viável para a disputa presidencial de 2026.
“O que esperamos de um político é que ele tenha responsabilidade com o país. Não dá para brincar de revanche política às custas dos empregos e da economia”, declarou um empresário do setor exportador.
Na prática, o recado é claro: Bolsonaro e seus filhos deixaram de ser vistos como ativos políticos pelo mercado. Com isso, o apoio financeiro e político que um dia sustentou parte da base bolsonarista começa a migrar — com cautela — para nomes que demonstram mais equilíbrio e pragmatismo.
Fonte: G1