Depoimento à PF e entrevista exclusiva apontam participação do presidente do União Brasil em grupo que teria financiado aeronaves milionárias; Rueda nega envolvimento e fala em tentativa de difamação
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Antônio Rueda, presidente do União Brasil, e Ciro Nogueira (PP), são aliados políticos e foram citados por piloto em entrevistaImagem: Arte/UOL |
Um depoimento à Polícia Federal e uma entrevista exclusiva ao ICL Notícias lançaram novas suspeitas sobre o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, que estaria entre os donos ocultos de quatro jatos executivos operados pela Táxi Aéreo Piracicaba (TAP), empresa citada em investigações sobre lavagem de dinheiro ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
O piloto Mauro Caputti Mattosinho, de 38 anos, que trabalhou na empresa entre 2023 e setembro deste ano, afirmou que o dirigente político era mencionado internamente como chefe de um grupo com “muito dinheiro para gastar” na compra de aeronaves avaliadas em milhões de dólares. “O crescimento da empresa foi justificado como resultado de um grupo encabeçado por Rueda, que vinha com muito capital para investir”, disse em entrevista gravada em vídeo.
Rueda, em nota oficial, nega ser dono de aeronaves e afirma que “jamais participou de qualquer compra” e que costuma viajar em voos comerciais ou fretados. O político ainda “repudia com veemência qualquer tentativa de vincular seu nome a investigados ou ilícitos”.
A conexão com o esquema
O piloto revelou ter transportado mais de 30 vezes os foragidos Mohamad Hussein Mourad (Primo) e Roberto Augusto Leme da Silva (Beto Louco), líderes de um esquema de lavagem de dinheiro para o PCC. Segundo ele, durante os voos presenciou conversas sobre negociações milionárias, transporte de valores em espécie e até menções a encontros com figuras políticas de destaque.
Um dos episódios relatados foi o transporte de uma sacola que aparentava conter dinheiro vivo, no mesmo dia em que Beto Louco disse a passageiros que teria um encontro com o senador Ciro Nogueira (PP-PI). O parlamentar negou proximidade com o investigado e também rejeitou qualquer recebimento de valores. Nogueira processou o ICL Notícias, acusando o veículo de danos morais.
Aviões em nome de terceiros
De acordo com Mattosinho, Rueda era chamado de “Ruedinha” dentro da TAP e viajaria frequentemente nos jatos, embora não fosse ele o piloto nesses deslocamentos. Entre as aeronaves supostamente ligadas ao presidente do União Brasil estão:
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Raytheon 390 Premier (PR-JRR) – registrado em nome da Fênix Participações, controlada por empresários e advogados, mas sem menção formal a Rueda;
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Gulfstream G200 (PS-MRL) e Citation Excel (PR-LPG) – vinculados à Bariloche Participações S/A, empresa controlada por fundos de investimento;
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CitationJet 2 (PT-FTC) – registrado em nome da Serveg Serviços, firma de fachada em Imperatriz (MA), que alega não ter conhecimento de operações com aeronaves.
As investigações apontam que fundos de investimento e empresas de fachada vêm sendo usados para ocultar patrimônio e movimentar recursos ilícitos em operações do PCC.
Negócios e viagens internacionais
O piloto disse ainda que Rueda tinha interesse na compra de um Gulfstream Série 550 (PS-FSR), avaliado em mais de US$ 10 milhões, capaz de viagens intercontinentais. O jatinho esteve envolvido em voos para a ilha de Mykonos, na Grécia, em julho e agosto, coincidindo com as comemorações de 50 anos do presidente do União Brasil.
Rueda afirmou que viajou em voo comercial da British Airways e negou ter adquirido a aeronave.
Contexto empresarial e político
A TAP é administrada pelo empresário Epaminondas Chenu Madeira, oficialmente em nome de sua mãe. Conversas obtidas pelo ICL mostram o empresário citando os foragidos Primo e Beto Louco em mensagens de WhatsApp, reforçando os vínculos entre os investigados e a operação da empresa aérea.
A companhia, que tinha cinco aeronaves em 2023, passou a operar dez neste ano. Em nota, declarou atuar “em observância à lei” e que só tomou conhecimento da Operação Carbono Oculto após sua deflagração.
Documentos também ligam sócios da TAP a fundos de investimento investigados pelo Ministério Público de São Paulo, que identificou uso de estruturas financeiras sofisticadas na Avenida Faria Lima para lavar dinheiro do PCC.
Fonte: UOL