Eugênia Villa, da SSP-PI, destaca urgência de medidas protetivas e aponta desafios de acesso de mulheres negras à rede de proteção
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Foto: Arquivo/Cidadeverde.com |
A delegada Eugênia Villa, diretora de Avaliação de Risco da Secretaria de Segurança Pública do Piauí (SSP-PI), chamou atenção para a forte relação entre o fim de relacionamentos e a ocorrência de feminicídios no estado. Segundo ela, a esmagadora maioria dos casos acontece logo no primeiro ano após a separação.
“Entre 88 e 90% dos feminicídios ocorreram no primeiro ano após o fim de um relacionamento, e isso é muito expressivo. A separação é realmente um fator que pode vir a acelerar o feminicídio”, afirmou.
Eugênia ressaltou que as medidas protetivas de urgência têm papel decisivo na prevenção, mas alertou que muitas mulheres assassinadas sequer chegaram a registrar ocorrência. “Essas mulheres estão morrendo, na rubrica do feminicídio, a maior parte, 88% aqui no Piauí, porque não registraram nenhum BO. Isso quer dizer que não entraram na nossa conta de proteção. Então, 12% morreu. Agora, eu afirmo que as mulheres que nos procuram e que têm medida protetiva no Piauí estão sim se salvando”, reforçou.
Pesquisa do Banco Mundial e desigualdade racial
A delegada também citou uma pesquisa do Banco Mundial em parceria com universidades do Canadá e do Brasil, que mostrou redução de 12% a 15% dos índices de feminicídio em locais com delegacias da mulher. Contudo, segundo ela, esse impacto não ocorre na mesma proporção quando se trata de mulheres negras.
“Primeiro, porque uma mulher negra pode ter mais dificuldade de chegar até uma delegacia, ter um atendimento especializado, pela renda familiar ou pelo nível de instrução. Mas não é só a presença da delegacia da mulher: precisamos avaliar a rede inteira que protege essa mulher. Temos que investigar mais esse estudo”, ponderou.
Racismo institucional e representatividade
Para Eugênia Villa, compreender os fatores que dificultam o acesso das mulheres negras aos serviços de proteção é essencial para mudar o cenário.
“O Piauí é pioneiro em muitos protocolos. Agora precisamos entender por que mulheres não nos procuram. É porque somos delegadas não negras? É porque o tratamento dispensado pela polícia aos seus agressores, homens negros, gera desconfiança? Temos que fazer inúmeras perguntas, pois pesquisas demonstram o racismo institucional. Uma mulher negra precisa de representatividade, e tudo isso tem que ser diagnosticado”, concluiu.
Fonte: Cidade Verde