Brasil inicia aplicação de novo medicamento contra Alzheimer em clínicas particulares

Medicamento da Eli Lilly promete desacelerar a progressão da doença em fases iniciais, mas alto custo e exigência de infraestrutura limitam acesso

Remédio é indicado para as fases iniciais da doença de AlzheimerImagem - Foto: Getty Images

O Brasil passa a aplicar, na rede particular, o medicamento donanemabe —nome comercial Kisunla— para pacientes em fases iniciais da doença de Alzheimer. Produzido pela farmacêutica Eli Lilly, o anticorpo monoclonal foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em abril deste ano e teve o preço autorizado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) em julho.

O tratamento, disponível por infusão intravenosa, é indicado para pessoas com comprometimento cognitivo leve ou demência inicial leve. Nos três primeiros meses, são administradas duas ampolas mensais, com custo estimado entre R$ 5.000 e R$ 6.000 cada. A partir do quarto mês, a frequência sobe para quatro ampolas mensais, o que pode elevar o valor mensal a R$ 20.000–R$ 24.000.

A Alta Diagnósticos, do grupo Dasa, já anunciou a aplicação do medicamento em unidades do Rio e de São Paulo, enquanto a rede Mater Dei também confirmou a oferta. No caso da Alta, o frasco terá preço a partir de R$ 8.000, incluindo estrutura, materiais e acompanhamento profissional.

Segundo especialistas, como o neurologista Fábio Porto, presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz-SP), e o psiquiatra Diogo Haddad, coordenador do Núcleo de Memória da Alta Diagnósticos, o donanemabe representa um marco por atuar diretamente sobre as placas amiloides no cérebro, rompendo o paradigma de terapias apenas sintomáticas. A substância não cura o Alzheimer, mas pode retardar sua progressão, oferecendo mais qualidade de vida e autonomia aos pacientes.

Quem pode receber o tratamento

O protocolo prevê uso em pacientes com confirmação da patologia por exames como PET amiloide ou análise de líquor, além de ressonância inicial sem sinais de complicações. Indivíduos com duas cópias do gene APOE4, angiopatia amiloide, micro-hemorragias, quadro moderado da doença ou em uso de certos anticoagulantes estão fora das indicações devido ao risco elevado de efeitos adversos.

O medicamento exige acompanhamento médico rigoroso e monitoramento periódico com ressonância magnética. Estima-se que até um terço dos pacientes possam desenvolver micro-hemorragias, e um em cada quatro apresente edemas cerebrais, variando de sintomas leves, como cefaleia e tontura, a casos graves, como convulsões e encefalite.

Expectativas e desafios

Nos estudos clínicos, o donanemabe reduziu em 35% o declínio clínico de pacientes nas fases iniciais da doença. Apesar disso, especialistas alertam que o alto custo, a necessidade de exames específicos e a infraestrutura complexa de monitoramento restringem o acesso, concentrado em centros de grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte.

A farmacêutica Eli Lilly afirmou que a chegada do medicamento ao Brasil “representa um avanço importante para o tratamento do Alzheimer”. Em paralelo, a Anvisa analisa outro anticorpo monoclonal, o lecanemabe, já aprovado nos Estados Unidos, onde também foi autorizada recentemente a versão em autoinjetor subcutâneo semanal.

Especialistas reforçam que os novos medicamentos devem ser combinados a estratégias não farmacológicas, como atividade física, terapia ocupacional, reabilitação cognitiva e estimulação, fundamentais para preservar o bem-estar e a qualidade de vida dos pacientes.

Fonte: UOL

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