Suspensão em Mato Grosso expõe efeito das denúncias de Anitta e intensifica investigações sobre cachês milionários em cidades de pequeno porte
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Justiça passou a mirar shows sertanejos após denúncia de Anitta - Foto: © Instagram/Gusttavo Lima |
A decisão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) de suspender a Festa do Peão em Peixoto de Azevedo, avaliada em R$ 2,2 milhões, marca mais um capítulo da crescente fiscalização sobre o uso de verbas públicas em shows sertanejos. O evento, em uma cidade de 50 mil habitantes, previa apresentações de Zezé Di Camargo e Naiara Azevedo, mas foi barrado após o Ministério Público apontar incompatibilidade entre os gastos e o déficit orçamentário municipal. O valor ainda ultrapassava o limite estabelecido pela Lei Estadual nº 12.082/2023 para convênios dessa natureza.
Efeito Anitta e o “tororó”
A ofensiva do Ministério Público contra contratos superfaturados ganhou força após as declarações polêmicas do cantor Zé Neto, em 2022, que criticou a cantora Anitta durante um show e atacou o uso da Lei Rouanet. Em resposta, a artista ironizou as falas, apelidando a tatuagem citada de “tororó”, mas foi além: denunciou práticas suspeitas em contratos de prefeituras com artistas, afirmando que sua própria equipe havia recusado propostas nesses moldes.
A exposição pública deu origem ao chamado “efeito tororó”, que estimulou procuradores de diferentes Estados a investigar repasses milionários a artistas sertanejos, muitos deles em municípios de pequeno porte com graves dificuldades orçamentárias.
Shows sob suspeita
Entre os principais alvos está Gusttavo Lima. Cachês que ultrapassavam R$ 1 milhão em cidades com menos de 10 mil habitantes geraram cancelamentos e ações judiciais. Um dos casos mais emblemáticos ocorreu em Campo Alegre de Lourdes (BA), que destinou R$ 1,3 milhão para um show enquanto enfrentava situação de emergência por conta da seca — valor três vezes maior que todo o orçamento cultural da cidade.
Outro episódio de repercussão foi o contrato de R$ 750 mil para um show de Leonardo em Gaúcha do Norte (MT). Mesmo após a suspensão judicial, a apresentação chegou a acontecer mediante liminar. Depois, a Justiça determinou a devolução de R$ 300 mil pela empresa Talismã Music, da qual o cantor é sócio, e abriu ação contra o prefeito.
Casos semelhantes envolveram artistas como César Menotti e Fabiano, Israel e Rodolffo, Bruno e Marrone, Gian e Giovani, além de apresentações em cidades como Sorriso (MT), onde Zé Neto fez o discurso que detonou a polêmica com Anitta — recebendo cachê de R$ 400 mil.
Fiscalização e resistência política
Apesar da repercussão, o tema nunca avançou no Congresso Nacional, mesmo após pressão popular que chegou a levantar a hashtag #CPIdoSertanejo. Parlamentares evitaram investigar a fundo os contratos, demonstrando resistência em enfrentar os indícios de corrupção.
Já a Justiça e o Ministério Público seguiram na linha oposta. O caso de Peixoto de Azevedo reforça a tendência de suspensão e análise criteriosa dos contratos, verificando não apenas o teto legal de repasses, mas também a justificativa para aplicar cifras milionárias em eventos, quando municípios enfrentam demandas urgentes em saúde, educação e infraestrutura.
Anitta ironiza: “E eu achando que tava só fazendo uma tatuagem no tororó”
Com as investigações se expandindo, a cantora voltou a comentar nas redes sociais, ironizando o rumo que suas declarações tomaram. “E eu achando que tava só fazendo uma tatuagem no tororó”, publicou, em referência à polêmica que deu origem a uma devassa nacional sobre contratos de shows sertanejos.
O espaço segue aberto para manifestações das partes citadas, que poderão apresentar suas versões, esclarecimentos ou contestações aos fatos.