Número de jovens com câncer dispara e preocupa especialistas

Levantamento do DataSUS mostra crescimento de quase 300% em 11 anos; especialistas pedem revisão de protocolos no SUS

Imagem: Pixel-Shot / Shutterstock

O câncer, antes associado principalmente ao envelhecimento, tem atingido cada vez mais adultos jovens, com até 50 anos, segundo um levantamento inédito feito pelo G1 com base em dados do DataSUS. Entre 2013 e 2024, o número de diagnósticos quase quadruplicou no Sistema Único de Saúde, saltando de 45.506 para 174.938 casos — um aumento de 284% em apenas 11 anos.

A mudança no perfil epidemiológico preocupa médicos e autoridades de saúde, pois revela uma geração que, apesar de mais informada, está mais exposta a fatores de risco ligados ao estilo de vida moderno, como má alimentação, sedentarismo, estresse e consumo excessivo de ultraprocessados.

Uma geração adoecendo mais cedo

De acordo com os dados apurados pela repórter Talyta Vespa, os cânceres de mama, colo do útero e colorretal são os que mais crescem nessa faixa etária. Em comum, todos têm forte relação com hábitos cotidianos e com a ausência de exames preventivos.

O câncer de mama lidera o ranking de diagnósticos, com aumento expressivo entre mulheres jovens, seguido pelos tumores de colo do útero, colorretal, estômago e fígado.

“O que nos preocupa é que esses tipos de câncer estão surgindo mais cedo, em pessoas em plena idade produtiva, muitas vezes pais e mães de crianças pequenas”, explica o oncologista Samuel Aguiar, do A.C.Camargo Cancer Center.

Aguiar destaca que o caso do câncer colorretal é emblemático:

“Apenas 5% dos casos são hereditários. Mais de 90% estão diretamente relacionados a alimentação pobre em fibras, excesso de carne vermelha e gordura, além do sedentarismo e da obesidade.”

Estilo de vida e diagnóstico tardio: combinação perigosa

A rotina acelerada, o aumento do consumo de fast food e bebidas alcoólicas e a redução do tempo dedicado a atividades físicas estão entre os principais fatores que impulsionam a incidência da doença.
Além disso, os protocolos de rastreamento do SUS ainda estão defasados, voltados prioritariamente para pessoas acima dos 50 anos — um cenário que deixa grande parte dos pacientes jovens sem acompanhamento preventivo.

A médica nuclear Sumara Abdo, do Instituto Nacional do Câncer (INCA), alerta que essa lacuna no sistema de saúde pode estar custando vidas:

“Já temos evidências de que tumores como o de mama e o colorretal vêm aumentando muito antes dos 50 anos. Os protocolos precisam ser atualizados para refletir essa nova realidade.”

Prevenção e hábitos saudáveis: o caminho mais eficaz

Mesmo com os avanços tecnológicos e o acesso à informação, os especialistas reforçam que a prevenção ainda é a principal arma contra o câncer.
Segundo o Ministério da Saúde e o INCA, algumas medidas simples podem reduzir drasticamente o risco:

  • Alimentação rica em frutas, verduras, legumes e fibras;

  • Redução do consumo de açúcares, gorduras e ultraprocessados;

  • Prática regular de atividade física;

  • Evitar álcool e tabaco;

  • Realizar check-ups periódicos e estar atento a sinais como perda de peso inexplicável, fadiga constante, dor persistente, presença de sangue nas fezes e nódulos.

O oncologista Rafael Pacheco, da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, reforça que a cultura do rastreamento precisa ser fortalecida no Brasil:

“Muitas vezes o paciente chega com a doença em estágio avançado porque ignora sintomas ou tem dificuldade de acesso a exames. Isso diminui as chances de cura e aumenta o custo do tratamento.”

Um fenômeno global que preocupa

O crescimento dos casos entre jovens não é exclusividade do Brasil. Segundo estudo publicado pela revista científica Nature Medicine (2022), a proporção de diagnósticos de câncer em pessoas com menos de 50 anos já representa 20% dos novos casos anuais nos Estados Unidos e no Reino Unido.

Pesquisadores apontam que, além do estilo de vida, fatores ambientais e exposição precoce a substâncias químicas presentes em alimentos e cosméticos também podem estar contribuindo para o aumento.

Novo desafio para a saúde pública

O aumento expressivo de casos entre jovens lança um desafio ao Sistema Único de Saúde, que precisa repensar suas estratégias de rastreamento e diagnóstico.
Enquanto os tumores continuam crescendo silenciosamente entre pessoas ativas e produtivas, especialistas pedem campanhas permanentes de conscientização e políticas públicas direcionadas para esse novo perfil de paciente.

“O câncer não é mais uma doença só da terceira idade. Ele está batendo à porta de uma geração inteira que cresceu sob o ritmo acelerado da vida moderna. E é urgente adaptar o sistema de saúde a essa realidade”, conclui Sumara Abdo, do INCA.

Em resumo: o câncer entre adultos jovens tornou-se uma ameaça real — e combater esse avanço exige um esforço conjunto entre governo, profissionais de saúde e a sociedade, para que prevenção e diagnóstico precoce deixem de ser exceção e passem a ser regra.

Fonte: G1

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