Estados Unidos miram Pix e pirataria em nova investigação contra o Brasil

Relatório do governo americano critica sistema de pagamentos, a Rua 25 de Março e tarifas comerciais; tensão cresce após tarifa de 50% e defesa de Bolsonaro por Trump

Casa Branca/Reprodução Donald Trump

O governo dos Estados Unidos abriu uma investigação oficial contra o Brasil por supostas práticas comerciais desleais. A apuração, conduzida pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), está amparada na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 — instrumento que permite a adoção de sanções comerciais unilaterais por parte dos EUA quando identifica políticas ou práticas consideradas discriminatórias ou injustas.

O relatório americano inclui críticas diretas ao sistema brasileiro de pagamentos instantâneos, o Pix, além de apontar falhas no combate à pirataria, especialmente em regiões como a Rua 25 de Março, em São Paulo. A investigação também menciona tarifas aplicadas sobre o etanol norte-americano, restrições à transferência internacional de dados e favorecimento econômico a parceiros como Índia e México — o que, segundo o documento, prejudica a competitividade dos produtos dos Estados Unidos no mercado brasileiro.

Pix como alvo principal

A inclusão do Pix no relatório surpreendeu o setor financeiro e digital. O sistema, lançado pelo Banco Central do Brasil em 2020, é amplamente reconhecido internacionalmente por sua eficiência, velocidade e impacto na inclusão financeira. De acordo com a acusação norte-americana, o Pix estaria funcionando como um obstáculo à entrada de soluções de pagamento estrangeiras no Brasil, ao beneficiar “excessivamente” empresas locais.

Especialistas e representantes do setor de criptoativos reagiram. Sarah Uska, analista do Bitybank, classificou o movimento como contraditório com a postura pró-cripto adotada por Donald Trump.

“A declaração de Trump revela uma contradição difícil de ignorar: ao mesmo tempo em que se posiciona como defensor da liberdade econômica e das criptomoedas, ataca justamente o Pix, que é hoje a principal ponte entre o real e o universo cripto. Mais de 90% dos depósitos em corretoras nacionais são feitos por Pix. Atacar esse sistema é enfraquecer a inclusão digital no Brasil”, afirmou Uska.

Pirataria e propriedade intelectual

O relatório também aponta que o Brasil segue com graves problemas no combate à pirataria. A Rua 25 de Março, no centro de São Paulo, foi novamente citada como “um dos maiores mercados de produtos falsificados do mundo”, mesmo após diversas operações de fiscalização e combate ao comércio ilegal. A crítica não é nova: a 25 de Março aparece há anos em listas americanas de observação sobre violação de propriedade intelectual.

Tarifas e tensões diplomáticas

Essa nova ofensiva comercial norte-americana ocorre dias após Donald Trump, atual presidente dos EUA, anunciar uma tarifa de 50% sobre importações de produtos brasileiros. A medida entra em vigor em 1º de agosto e causou forte reação no governo Lula, que considerou o gesto como uma retaliação velada ao julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF).

Trump, em carta enviada ao presidente Lula e divulgada em suas redes sociais, afirmou que a investigação contra Bolsonaro representa uma “vergonha internacional” e defendeu o ex-presidente brasileiro como “um líder honesto e respeitado”.

O governo brasileiro, por sua vez, rejeitou a interferência. “O Brasil é um país soberano e não aceitará ser tutelado por interesses externos”, afirmou Lula, em declaração pública.

O que esperar a partir de agora

A investigação da Seção 301 pode resultar em sanções contra o Brasil, como tarifas adicionais ou restrições comerciais, dependendo da conclusão do relatório e das decisões políticas da Casa Branca.

Historicamente, esse tipo de investigação também serve como instrumento de barganha comercial e diplomática. Analistas avaliam que a inclusão do Pix pode ser parte de uma estratégia para pressionar o Brasil em negociações bilaterais mais amplas, especialmente em um ano eleitoral nos EUA.

Enquanto isso, o governo brasileiro articula formas de responder à ofensiva, inclusive buscando apoio de parceiros comerciais europeus e asiáticos para rebater as alegações americanas no cenário internacional.

Fonte: IG

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem