Polinização em risco: um alerta para a agricultura e a segurança alimentar

Estudo mostra que até 75% da produção agrícola mundial depende das abelhas, mas espécies estão ameaçadas por desmatamento, agrotóxicos e mudanças climáticas

Abelha da espécie Apis mellifera — Foto: Muhammad Mahdi Karim / Wikimedia Commons

A polinização é um dos processos mais importantes para a manutenção da vida no planeta. Responsáveis por transportar o pólen entre as flores, abelhas e outros polinizadores garantem a formação de frutos e sementes, sustentando diretamente a produção de alimentos. Estima-se que cerca de 75% das culturas agrícolas cultivadas pela humanidade dependam, em algum grau, desse serviço natural.

No Brasil, o valor econômico da polinização é estimado em R$ 50 bilhões por ano, segundo a Embrapa. Cultivos de grande relevância para a economia, como café, soja e laranja, estão entre os mais beneficiados. Frutas como maçã e melão, por exemplo, simplesmente não existiriam em escala comercial sem a ação das abelhas. Em alguns casos, produtores precisam até alugar colmeias para garantir a produtividade.

Impacto direto na produção e qualidade dos alimentos

O grau de dependência varia entre as culturas. No caso do maracujá, por exemplo, a polinização depende da mamangava, espécie de abelha cada vez mais rara, obrigando produtores a recorrerem à polinização manual.

Além do volume de produção, a presença de abelhas também influencia a qualidade. Pesquisas da Embrapa mostram que a polinização natural em cafezais poderia elevar o faturamento do café arábica em até R$ 22 bilhões anuais, graças ao aumento da produtividade e à melhoria no padrão dos grãos.

Ameaças crescentes aos polinizadores

O Brasil abriga aproximadamente duas mil espécies de abelhas, mas muitas delas enfrentam riscos de redução populacional ou até extinção. Entre as principais ameaças destacadas pelos pesquisadores estão:

• Desmatamento, que reduz áreas de habitat natural;

• Uso de agrotóxicos, que contaminam flores e matam enxames inteiros;

• Mudanças climáticas, que desregulam regimes de chuva e temperatura;

• Pragas e doenças, que afetam colmeias nativas e comerciais;

• Espécies invasoras, que competem por recursos e habitat.

Um episódio emblemático ocorreu em Uberlândia (MG), em 2023, quando a morte de 15 milhões de abelhas-africanas foi atribuída ao uso do agrotóxico Tiametoxam, causando prejuízos superiores a R$ 420 mil.

Caminhos para preservar as abelhas e a polinização

Diante desse cenário preocupante, especialistas defendem ações estruturais para garantir a preservação dos polinizadores e, consequentemente, da segurança alimentar:

• Preservação e restauração florestal: áreas com vegetação nativa aumentam a produtividade agrícola. Estudos mostram que produtores de açaí que mantêm a floresta ao redor têm ganhos econômicos maiores.

• Manejo de polinizadores: práticas como polinização assistida e aluguel de colmeias ajudam a reduzir perdas.

• Criação de abelhas sem ferrão: espécie nativa, segura para manejo urbano e agrícola, já ganha espaço em projetos sustentáveis.

• Uso de fertilizantes e defensivos menos nocivos: a adaptação de práticas agrícolas pode minimizar os efeitos tóxicos sobre colmeias.

A redução das populações de abelhas e de outros polinizadores ameaça não apenas o meio ambiente, mas a própria base da agricultura e da alimentação humana. O desafio é global, mas os impactos locais — como queda na produção de café, frutas e oleaginosas no Brasil — mostram que a urgência é imediata.

Preservar as abelhas significa preservar a biodiversidade, a agricultura e a segurança alimentar. Sem elas, parte significativa da produção de alimentos que chega à mesa de milhões de brasileiros pode estar em risco.

Fonte: G1

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